São os últimos dias de Verão. Ainda se sente a brisa quente,
mas já com contornos de tormenta. As rajadas fazem balançar os ramos da árvore,
despindo-os gradualmente. No chão, um cemitério pintado de vermelho, marca de
sangue do fim de mais uma estação. Visão aterradora, mas não há outra. Vermelho
sangue ou cinzento cimento. Vermelho. Cinzento. Vermelho. Verde. Verde? Nunca
tinha visto verde! Vermelho. Verde novamente. Terror! Já não sente a leve
pressão do cordão, o cordão umbilical que a viu nascer. Vermelho. Verde. Um
rodopio incessante, intolerável. Não aguenta, vomita! Vermelho. Verde. O
vermelho mais perto. O verde mais distante. A brisa. Fecha os olhos. Aceita o
vermelho e desfruta da brisa, livre. A vida em retrospectiva. Já não tem medo
da mudança, de cerrar um ciclo e iniciar outro. Antes de sentir o impacto com o
cinzento, consegue mesmo esboçar um sorriso. Missão cumprida. Aqui termina o
papel da última camélia deste verão. Termina e começa. Começa, de novo.
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