quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Pequeno-almoço



-“Um café e um croissant simples, por favor”.
Tudo isto dito quase num murmúrio. A aparência neutra e os movimentos
contidos conferem-lhe a privacidade que necessita. Abre o envelope amarelo
e faz aparecer por breves segundos uma fotografia. Aquela face está sentada
duas mesas ao lado, imersa numa discussão, empolgada, distraída. O empregado
pousa o café e o croissant em cima da mesa. Sorve um golo. Sabe o que tem que
fazer, já o fez centenas de vezes. Desta vez deram-lhe um dispositivo novo, com
efeito retardado. Assim, pode estar longe quando a balbúrdia começar. Mais
um sorvo. Tem 5 minutos. Retira do bolso um objecto metálico do tamanho de
uma unha. Tem o alvo em linha de vista e em redor ninguém lhe presta atenção.
Prime um botão e uma luz ténue fixa-se no pescoço da vítima. Ao soltá-lo, uma
nanocápsula supersónica penetra-lhe a carne, sem qualquer ruído, sem nenhuma
reacção. Guarda o dispositivo e pede a conta. Nem um sinal de nervosismo. Paga
e dirige-se para a porta. Já do outro lado da rua, ouve gritos de desespero. Atrás
fica um corpo no chão, rodeado de histeria.

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