quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Presa



O Sol acaba de se pôr, atrás da outra margem do rio. Sentado no pontão, de pernas a baloiçar, Joaquim brinca com o seu carro. Há uma tranquilidade inquieta na côr lilás do fim do dia. Não se sente uma brisa, não se ouve um ruído, não se vislumbra um movimento. Só Joaquim, com o seu carro vermelho, alheado no seu mundo. Joaquim e... algo, algo que se esconde, mas o rapaz não se apercebe. Levanta-se segurando o carrinho que o avô lhe deu no Natal, há 3 Natais atrás, quando ainda era vivo. De pé, observa o fundo do pontão, o reflexo no rio, o contraste com o céu. Nenhum movimento, mas essa presença observa-o. Joaquim não sabe. A curiosidade arrasta-o lentamente para o final do passadiço de madeira, invisivelmente vigiado. Ao sexto passo, o pontão cede, quase em silêncio. Joaquim, sem chão, cai ao rio, desamparado, silencioso. A presença observa impávida o rapaz a debater-se. Joaquim é muito pequeno para poder ganhar a luta ao rio. Por fim, as águas tranquilizam-se, a presença esfuma-se. Era a Morte.

1 comentário:

  1. gostei da associação do texto a esta foto tão bonita: combinam bem um com o outro.
    Só não gostei do título

    ResponderEliminar