quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

11:50


A hora de almoço é a pior altura do dia para Farida. Chegam pessoas e sentam-se, esparramando as nalgas contra si, almofada marroquina de boas famílias. As outras dizem-lhe para ela ver o lado positivo, não passa frio, mas Farida não gosta de ficar espalmada contra a cadeira de ferro. Quente de um lado, frio do outro. Constipa-se. Devia ter estudado como a irmã, que decora um sofá enorme numa casa de família. Mas o pior mesmo são as bufas à hora de almoço. Dez minutos sentados e já Farida sente a brisa a atravessar-lhe o corpo. Então aquele gordo que gosta de se esfregar nela... Oh não! Lá vem ele! Aposto que se vai sentar aq... Blob! Espalmada. Quente. Frio. Brisa. Aroma. Uma hora. Não aguenta mais! Olha à sua volta e observa as outras almofadas. Ela, Farida, cujo nome significa única, sem igual, rodeada por dezenas de almofadas iguaizinhas a ela. Solta um grito mudo de revolta. Deixa-se escorregar pela cadeira, perante o olhar angustiado das suas companheiras. Desliza até ficar pendurada pelos nós que a prendem. Enforca-se.


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