quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Hora do Diabo



Daniel desliza cauteloso por entre as árvores. Embrenhado na floresta, segue de longe o ponto luminoso de uma lanterna, ténue, que apenas se distingue. À sua volta, a escuridão absoluta envolve-o e protege-o. De repente, a luz detém-se. Daniel aproxima-se, sem fazer qualquer ruído e esconde-se atrás de um arbusto. Numa clareira, um vulto move-se, recolhendo pequenos pedaços de lenha. Daniel vem seguindo aquele vulto desde a cidade. O riscar de um fósforo perturba o negro da noite e uma fogueira nasce, a medo. Um rosto revela-se e Daniel solta um grito abafado. Não é possível! O vulto afasta-se e tira uma galinha preta de um saco. Com uma destreza impressionante e sem qualquer ruído, uma lâmina corta o pescoço da galinha e deixa-a sangrar na fogueira. Daniel faz um esforço para aguentar o estômago. Ajeita-se no arbusto e fita aquele rosto, que já viu tantas vezes. De repente os seus olhares cruzam-se, por breves segundos, na escuridão. Foi descoberto. Daniel começa a correr, assustado, e tropeça num tronco, caindo no chão. Um ramo pontiagudo trespassa-lhe o peito. Agora é Daniel quem sangra. Faz um esforço para se levantar, mas não é capaz. A vista tolda-se, um vulto aproxima-se, a vida foge-lhe. "Não devias ter vindo aqui", diz-lhe uma voz doce. Daniel e a aflição de um gemido. Não é capaz. As forças abandonam-no. Lentamente, morre.

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