quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Aninhada


Já está! Depois de muitas horas de sofrimento solene, estão cá fora os nove. Lia pode agora recostar-se, enquanto os gatinhos se atropelam, cegos, para saciar a fome. A mãe orgulhosa fecha os olhos de cansaço. Volta a abri-los e observa a ninhada, na sua fragilidade, a descobrir a vida. Uma onda de tristeza invade-a de súbito, transformando-se aos poucos em desespero. Lia ouviu os donos e sabe que este momento é efémero. É injusto para aquelas almas que ainda nem viram a sua progenitora, mas lá no fundo compreende. São muitos, os donos não podem cuidar de todos. «Sê positiva, sempre cuidaram bem de ti, também irão garantir o bem estar de todos eles», pensa enquanto os continua a observar, mas Lia é mãe, não se quer separar de nenhum. O olhar detém-se na cria mais próxima, curiosamente a última a sair, e que tanto trabalho lhe deu. Lia vê nela uma paz diferente, um sossego que a tranquiliza, uma inocência que perdurará. Com toda a gentileza de uma mãe, aconchega-o com a pata. «Tu não... Tu ficas.»


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