Um xaile azul. Numa qualquer rua de Alfama, chama-me a atenção um xaile azul, a enfeitar uma varanda. Talvez me chame a atenção pelo azul garrido, forte, a marcar a sua posição sem arrogância. Pergunto-me quem viverá ali. «Uma fadista talvez...» Afasto-me um pouco e espreito para dentro da casa. Através da janela consigo ver algumas peças de porcelana, de um padrão complexo que harmoniza com as cortinas de um modo perturbador. «Alguém com gosto arrojado», penso. «Alguém que outrora teve o mundo como quis, que o gozou e aproveitou, que não teve medo de ser diferente». Perco-me por momentos e tenho dificuldade em recordar-me para onde ia. Olho uma vez mais para o xaile, em jeito de despedida, em jeito de obrigado, e vejo uma figura na varanda. Calções, camisa de alças amarelada pelo uso duvidoso, bigode aparado e a gritar para o prédio em frente:
-"Ó Sérgio, quando é que me pagas o que me deves?"
Um gajo de Alfama... De repente lembrei-me para onde ia, e
até ia com pressa... Arranca!
Não consigo imaginar o fulano. Epá não consigo! Nem quero, pronto.
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