quinta-feira, 19 de julho de 2012

Vestígios de Nós


Transpiro. Gotas de suor brotam, lentamente, das profundezas da minha pele. Os meses de verão na planície alentejana são impiedosos. Semicerro os olhos e levo o copo à boca. A textura adstringente aquece-me por momentos a boca. Se calhar o calor é do vinho. Levanto-me e aproximo-me da janela. Uma brisa gentil afaga-me o rosto. Lá fora, as searas douradas pelo Sol rodeiam a casa, conferindo-lhe o isolamento perfeito para os pecados que aqui ousamos. Vidas paralelas. A minha mulher cruza-me o pensamento. Ela não merece. Sinto novamente o suor a querer soltar-se. Se calhar o calor vem da culpa. Ela não merece, mas e eu, mereço ser prisioneiro dos meus erros? Sinto um braço que me envolve. Dou meia volta e deixo-me levar por um beijo profundo. Uma onda ardente percorre-me o corpo. Não, afinal o calor vem do coração. Abraçados, encaminhamo-nos para o quarto. Na mesa, atrás, ficam os copos vazios, testemunhos de volúpia, vestígios de nós.

3 comentários:

  1. é muita difícil capturar aqueles "pequenos nadas" que constituem a vida. E tu estás a conseguir fazê-lo. E bem ;)
    Pequena nota para o Sadino: andas a contagiar demasiadas pessoas com a tua adstringência, ou é impressão minha?

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  2. Porra! acho que estou "embaralhada" com a autoria dos textos

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