Luminescências

Fengo achava-se diferente. Por muito que se
esforçasse sentia que não pertencia àquele lugar. O seu irmão Lumi há muito
tempo que tinha o seu emprego e a sua família. Até Lampi, a irmã mais nova, mal
parava em casa desde que tinha namorado novo. Na cidade dos pirilampos, parecia
que todos tinham encontrado o seu lugar menos Fengo. Minúsculos pontos
luminosos cruzavam os céus num labor contínuo e nos parques as fosforescências
viam-se sempre aos pares. "Aqui não há espaço para mim", dizia muitas
vezes a Lucerno, o seu melhor amigo. "Não sejas tonto. E a Lizzi?".
Sim, Lizzi tinha um dos mais belos resplendores da cidade, mas Fengo
preocupava-se mais com o seu, que se tornava a cada dia mais ténue. Um dia,
decidiu partir. Voou sem rumo definido, semanas a fio. Atravessou montes e vales, rios e lagos, silêncios e tempestades, sem sequer olhar para trás. Uma luminosidade intensa
no horizonte deteve-o. Era diferente da sua e Fengo soube que tinha chegado.
Tinha ouvido muitas histórias sobre a incandescência da cidade dos humanos.
Fengo sobrevoou feliz a cidade, subindo e descendo, entre espirais vertiginosas
e voltas mortais. Ali era diferente e tudo era diferente. Apaixonou-se pela
luminosidade escaldante de um candeeiro de jardim e ali viveu, noite após
noite, até que a sua luz se apagou. Ser diferente, no lugar certo, é bom.
Sem comentários:
Enviar um comentário