quinta-feira, 12 de julho de 2012

Luminescências



Fengo achava-se diferente. Por muito que se esforçasse sentia que não pertencia àquele lugar. O seu irmão Lumi há muito tempo que tinha o seu emprego e a sua família. Até Lampi, a irmã mais nova, mal parava em casa desde que tinha namorado novo. Na cidade dos pirilampos, parecia que todos tinham encontrado o seu lugar menos Fengo. Minúsculos pontos luminosos cruzavam os céus num labor contínuo e nos parques as fosforescências viam-se sempre aos pares. "Aqui não há espaço para mim", dizia muitas vezes a Lucerno, o seu melhor amigo. "Não sejas tonto. E a Lizzi?". Sim, Lizzi tinha um dos mais belos resplendores da cidade, mas Fengo preocupava-se mais com o seu, que se tornava a cada dia mais ténue. Um dia, decidiu partir. Voou sem rumo definido, semanas a fio. Atravessou montes e vales, rios e lagos, silêncios e tempestades, sem sequer olhar para trás. Uma luminosidade intensa no horizonte deteve-o. Era diferente da sua e Fengo soube que tinha chegado. Tinha ouvido muitas histórias sobre a incandescência da cidade dos humanos. Fengo sobrevoou feliz a cidade, subindo e descendo, entre espirais vertiginosas e voltas mortais. Ali era diferente e tudo era diferente. Apaixonou-se pela luminosidade escaldante de um candeeiro de jardim e ali viveu, noite após noite, até que a sua luz se apagou. Ser diferente, no lugar certo, é bom.

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