1939. Batalha de Brest. Narciso ajeita-se na trincheira.
Pelo ar, voam granadas. À sua volta, o ruído ensurdecedor dos disparos. Ao
longe, o troar dos canhões. "Raios partam a Guerra", pensa.
"Isto está-me a dar cabo da pele!"
-"Arnaldo, toma aqui conta disto que eu tenho que ir
arejar."
Arnaldo anui e assume o posto. Arnaldo acha que é o Rambo.
Narciso dirige-se ao sofá das comunicações, tentando não pisar ninguém nem
sujar as botas. Pega no telefone e liga ao esteticista da Companhia.
-"Nando, preciso de uma limpeza de pele."
-"Tenho livre às quatro."
-"Marca!"
Pousa o telefone. Suspira. Rebenta uma granada. Narciso tira
do bolso um espelho e observa o rosto. "Que desagradável, estou cheio de
terra!"
No regresso, encontra Arnaldo em dificuldades.
-"Ó Arnaldo, já estás sem um braço! É sempre a mesma
coisa, não te posso deixar a tomar conta de nada."
Arnaldo encolhe o ombro e devolve um morteiro ao inimigo.
Entretanto, o silvo da sirene soa na trincheira. Pousam-se as armas e lavam-se
as mãos. É meio-dia, hora de almoço na Guerra.