quinta-feira, 4 de abril de 2013

Perspectivas


Acordo no chão. Assustado. A minha primeira reacção é levantar-me, mas não sou capaz. Não me lembro sequer de ter caído. Olho à minha volta e não vejo sangue, o que me tranquiliza. Percebo que estou numa sala, ecoante, quase vazia. Não vejo janelas, mas o espaço está iluminado. Um objecto desperta a minha curiosidade. A poucos metros de mim está um telefone, no solo. Tento alcançá-lo mas não consigo esticar o braço. Subitamente, o telefone toca. O eco ricocheteia nas paredes e atravessa-me os tímpanos, deixando-me no desconforto. Estico o braço mas não posso atender. Desespero. A salvação pode estar ali. Não sei onde estou, não me mexo, não me salvo. O telefone emudece.

Ele acorda à minha frente. O efeito já deve estar a passar. De um canto da sala observo no maior silêncio as suas tentativas frustradas para se mexer. Parece que finalmente acertei na dose. Pelo menos este não morreu. O veneno deve retirar-lhe a memória por algum tempo, mas o efeito é passageiro. Analiso as suas reacções enquanto se tenta levantar, noto um crescendo de tensão. Ele fixa-se no telefone, tenta alcançá-lo, deve crer que ali reside a informação que procura. Faço soar o telefone e observo o seu desespero. Desligo a chamada. Deixa cair a cabeça com algum estrondo. Resignação. Anoto. A experiência foi um sucesso.


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