Acordo no chão. Assustado. A minha primeira reacção é levantar-me,
mas não sou capaz. Não me lembro sequer de ter caído. Olho à minha volta e não
vejo sangue, o que me tranquiliza. Percebo que estou numa sala, ecoante, quase
vazia. Não vejo janelas, mas o espaço está iluminado. Um objecto desperta a
minha curiosidade. A poucos metros de mim está um telefone, no solo. Tento
alcançá-lo mas não consigo esticar o braço. Subitamente, o telefone toca. O eco
ricocheteia nas paredes e atravessa-me os tímpanos, deixando-me no desconforto.
Estico o braço mas não posso atender. Desespero. A salvação pode estar ali. Não
sei onde estou, não me mexo, não me salvo. O telefone emudece.
Ele acorda à minha frente. O efeito já deve estar a passar. De um
canto da sala observo no maior silêncio as suas tentativas frustradas para se
mexer. Parece que finalmente acertei na dose. Pelo menos este não morreu. O
veneno deve retirar-lhe a memória por algum tempo, mas o efeito é passageiro.
Analiso as suas reacções enquanto se tenta levantar, noto um crescendo de
tensão. Ele fixa-se no telefone, tenta alcançá-lo, deve crer que ali reside a
informação que procura. Faço soar o telefone e observo o seu desespero. Desligo
a chamada. Deixa cair a cabeça com algum estrondo. Resignação. Anoto. A
experiência foi um sucesso.
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