quinta-feira, 18 de abril de 2013

Tanta Casa sem Gente



Vou caminhando pelas ruas, hoje com atenção redobrada. Tenho tempo e a minha cidade merece. As pessoas à minha volta fervilham de um lado para o outro, devo ser o único folgado. Normalmente são elas que dão frescura ao meu dia, que me trazem algo de novo. No entanto, hoje, a minha atenção vira-se para o que não se mexe, para o imóvel. Os edifícios da minha cidade, alguns seculares, erguem-se dando arcaboiço a cada bairro, a cada rua. Não posso deixar de reparar que alguns estão vazios e nem sempre em mau estado, o que me intriga. Por que razão estarão casas em boas condições e no coração da cidade desabitadas? Continuo a andar, dobro a esquina. O cenário vai-se repetindo de rua em rua. Chego a um prédio alto, com cartazes a dizer “aluga-se” em quase todos os andares. Cá em baixo, à entrada, dois sem-abrigo vão ajeitando as mantas e os cartões, preparando-se para a noite. Um deles ainda é jovem, o seu rosto transparece esperança no futuro. É inevitável, o paradoxo assola-me. Tanta casa sem gente e…

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