Vou caminhando pelas ruas, hoje com atenção redobrada. Tenho tempo e
a minha cidade merece. As pessoas à minha volta fervilham de um lado para o
outro, devo ser o único folgado. Normalmente são elas que dão frescura ao meu
dia, que me trazem algo de novo. No entanto, hoje, a minha atenção vira-se para
o que não se mexe, para o imóvel. Os edifícios da minha cidade, alguns
seculares, erguem-se dando arcaboiço a cada bairro, a cada rua. Não posso
deixar de reparar que alguns estão vazios e nem sempre em mau estado, o que me
intriga. Por que razão estarão casas em boas condições e no coração da cidade
desabitadas? Continuo a andar, dobro a esquina. O cenário vai-se repetindo de
rua em rua. Chego a um prédio alto, com cartazes a dizer “aluga-se” em quase
todos os andares. Cá em baixo, à entrada, dois sem-abrigo vão ajeitando as
mantas e os cartões, preparando-se para a noite. Um deles ainda é jovem, o seu
rosto transparece esperança no futuro. É inevitável, o paradoxo assola-me.
Tanta casa sem gente e…
...almas sem tecto.
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