quinta-feira, 14 de março de 2013

O Outro Lado do Muro




Salta. Salta. Salta. Não se segura. Cai. O ritual repete-se vezes sem fim. Desde que chegou com as chuvas, Cocas tenta subir aquela parede. Lá na terra de onde saiu há já várias semanas disseram-lhe que tudo é sempre melhor do outro lado do muro branco. Mas não é fácil, a parede é escorregadia até mesmo para as suas membranas. Deste lado a vegetação é muito alta e ele não consegue ver nada. Além do mais não há água, só a da chuva. E se não há água, não há rãs! Afinal, para que é que ele veio de tão longe se não há rãs? Salto. Salto. Salto. Segura-se por fim. Mas e agora? Não consegue saltar até ao topo, vai cair de novo! Cocas olha para o lado e vê uma planta com uma folha que, com o seu melhor salto, até é capaz de alcançar. Mas a folha não deve aguentar o seu peso. Não devia ter comido tantos mosquitos na viagem. Não tem nada a perder, comprime as suas patas traseiras o mais possível e tenta uma projecção épica. Aterrou no chão, deu duas voltas, torceu uma pata. Mas Cocas não sai daqui sem uma rã. Salto. Salto. Salto.
Entretanto, do outro lado do muro, alguém colecciona sapos...

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