São quase as doze e Armindo prepara a grelha. "Não
tarda estão aí os primeiros clientes e o cliente não pode esperar",
instrui-nos. Estamos na Doca das Marés, um restaurante típico da costa
vicentina, onde Armindo trabalha há quase dez anos. "Ainda andei na pesca
uns bons anos, mas um dia o mar chateou-se comigo e ficou-me com a traineira.
Dois dias à deriva até dar aqui à costa. Quando cheguei, já me tinham feito o
funeral e tudo!", relata com um sorriso maldoso. No entanto, há uma outra
história, essa sim única no país. Armindo já foi cabeleireiro, caso raro num
pescador. "Apareceu-me aqui aos 16 anos a pedir-me emprego", diz a
Dona Rute, dona de um salão há mais de 50 anos. "Era um moço tão jeitoso,
valha-nos Deus, as clientes gostavam muito dele". Mas a experiência só
durou dois anos. "Não me arrependo. As mulheres eram muito atiradiças.
Cheguei a ter que andar a fugir dos maridos". Hoje, já reformado, não
esquece a arte que o lançou na vida. Enquanto fala connosco aviva as brasas com
um secador. "Matilde, chega-me aqui dois robalos, faz favor!"
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