quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Ritual


Lá está ela, mais uma vez, na praia, completamente nua. Todos os dias o ritual repete-se. Mas quem será aquela mulher? Rui espreita por detrás das dunas, furtivo, atrevido. Ela desenha formas na areia com os dedos, lenta, provocadora. Rui deixa-se enfeitiçar e entrega-se de longe em segredo. Ela age com naturalidade como se esta praia existisse numa dimensão só sua. Dois personagens sós partilhando a mesma tela. A mulher levanta-se e espreguiça-se na direcção do mar. O sol atravessa-a e Rui vê agora a sua forma em contraluz. As curvas ousadas daquele corpo mais velho por quem sente desejo, curiosidade, ardor, pavor. A obsessão vira perfeição e medo aos olhos de um adolescente. Quem será aquela mulher? Ela vira-se para as dunas e revela a outra metade do seu corpo descoberto. Os catorze ávidos anos do Rui explodem num turbilhão de sensações que não controla. Os dedos cravados na duna, a respiração anelante, o corpo imóvel. Ela foi sua também hoje. O ritual repete-se...


3 comentários:

  1. Senti o barulho d'agua no meus ouvidos, a areia a escorregar entre meus dedos, o desejo no meu corpo todo, lembrancas de um mar que nunca conheci.

    Muito boa!

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  2. De volta à praia e a esse mar enorme que nos aguarda uma e outra vez. De volta à pureza de um desejo genuíno como só temos aos 14...

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