Feliciano sobe a rua lentamente. Descreve
círculos quase perfeitos, em direcção a casa. Quase… não fosse a valente
carraspana que apanhou na adega do Chico. Já leva 45 minutos de caminho e só
percorreu 50 metros.
- Sacana
do Chico, deu-me a pinga estragada – diz, agarrado à garrafa de tinto que
trouxe da adega.
-
Vai pra casa, Feliciano – diz-lhe a Dona Odete da janela. – Já tens idade para
ter juízo.
- E
você já tem idade para deixar de ser quadrilheira.
-
Mal-educado!
Encolhe os ombros. Pouco lhe interessam as
palavras de uma viúva feia que passa a vida à janela. Já percorreu mais 20
metros, está à porta da Daniela, a mais recente moradora do bairro.
- Ai
Dani, Dani, senta-te aqui! – grita-lhe da rua.
Abre-se uma janela e assoma-se um rapaz
novo, musculado.
- Vê
lá se queres uma solha, ó bêbedo!
-
Irra que tás arisca hoje – murmura Feliciano, estugando o passo.
Mais meia hora e chega ao destino. Pára e olha
para o céu.
-
Elá… 3 luas! Enganei-me outra vez na rua, raios me partam! Mas como é que eu
vim aqui parar? E de quem é esta garrafa?...
Aposto em como isto é autobiográfico
ResponderEliminarAposta! Aposta! :)
ResponderEliminar