quinta-feira, 2 de maio de 2013

Extracção - parte I


David acorda pela centésima vez. São cinco horas e o Sol ainda não nasceu. A ansiedade não o deixa pregar olho. Ao fim de dez anos de espera, é hoje que a volta a ver. Levanta-se e dirige-se à janela do hotel. A primeira claridade do dia revela os contornos de Bagdade, cidade que hoje se ergue das cinzas em que a deixaram. David foi piloto da Força Aérea Americana na Guerra do Golfo e foi aí, num campo de refugiados no Kuwait, que a viu pela primeira vez. Anisha destacava-se pela sua personalidade vincada, alegre, espalhafatosa. Chegou àquele campo perdida do marido que a maltratava. Nos meses que David ali passou em missão, apaixonaram-se, mas ele foi mandado regressar de urgência e quando voltou já Anisha havia partido. Contaram-lhe que o marido a encontrou e voltaram a Bagdade. Nenhum registo, nenhuma morada, apenas um nome. Hoje, dez anos volvidos, David regressa ao teatro de guerra. Finalmente descobriu o paradeiro de Anisha por intermédio de Frank, um amigo que lá deixou. Ela procurou-o em desespero, contando-lhe que o marido a tratava cada vez pior e que temia pela sua vida. Tomou-lhe apenas um mês a preparar tudo para a tirar dali para fora. Hoje era o dia. Lá fora, a claridade aumenta, preguiçosa, desafiadora.
 - Acorda, Frank, está na hora. – diz-lhe David, tocando-lhe ao de leve.

(continua)


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