quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Quando cai a Noite na Cidade (Parte I)



Cai a noite. Espreito pela janela e vejo a chuva a bater desenfreadamente contra o vidro, quase em desespero. “Preciso de te sentir…” Visto a gabardine e saio para a rua. A chuva abrandou, está agora mais dócil. Deambulo sem rumo. Preciso de pensar. A noite anterior deixou-me apreensivo. Quem seria aquela pessoa? Porque me dirigiu a palavra? E o bilhete, o que significa aquela mensagem? ‹‹Seguem-te››. A verdade é que hoje passei o dia inquieto. Seria uma mera sugestão?... Dou por mim parado num viaduto. Lá em baixo um corropio de faróis emana vida na noite fria. Viro-me repentinamente e uma mão pousa no meu ombro. Aí está ela novamente.
 - “Segue-me!”
A curiosidade não me deixa protestar. Dou por mim a seguir um vulto na escuridão. Num beco, pára e, determinada, encosta-me à parede e beija-me.
 - “Temos pouco tempo.”
 - “Quem és tu?”, pergunto, atordoado.
Ela sorri mas não responde. Com uma destreza ímpar retira um canivete da algibeira. Enterra a ponta na parede e faz saltar um tijolo. Estica o braço e alcança um pequeno embrulho.
 - “Anda! Vou-te mostrar uma coisa…”

(continua)

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