Silêncio. Já todos dormem menos eu, que não tenho sono.
Deitado na cama de rede, tento ler, mas não consigo focar as letras. "O
efeito ainda não passou. Talvez agora me consiga concentrar." Fecho os
olhos com força. Milhões de pontos de luz movem-se aleatoriamente e esforço-me
por lhes dar forma, figura, sentido. Não consigo. "Que desilusão..."
Levanto o braço e observo as costas da mão. "Lá estão elas!" Um
movimento de luz percorre-me o braço, contorna-me os dedos e volta a sair pelo outro
lado. Afinal não são formigas, é apenas luz, uma irradiância que contrasta com
a da manhã. Sorrio, é aura. Foco-me nos nós dos dedos. Formam-se números.
"Devia apontá-los e jogar na lotaria", penso. Mas alguns têm mais que
um dígito, não faz sentido. "Que estupidez!" Volto a olhar a mão. A
energia ainda flui, lenta, credível. Olho com ternura uma parte de mim que
desconhecia. Tudo nas últimas doze horas parece surreal. A porta abre-se de
mansinho.
-"Já te sentes
melhor? Queres um sumo de limão?"
-"Não então,
este livro vende-se em todo o lado."
-"Ok... vou
buscar o sumo."
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