Gabriel demora algum tempo a habituar-se à escuridão. No
centro da gruta, forma-se uma imagem de um baú. "Aqui está!",
exclama. Não obtém resposta. Gabriel olha em seu redor e não vê ninguém. As
pegadas à entrada da gruta são apenas as dele. O baú está agora mais nítido.
"Afinal há mesmo um tesouro..." Aproxima-se e abre a tampa, com
cuidado. Gabriel não quer acreditar! No interior do baú, bem longe, muito para
lá do fundo, estão os piratas que conheceu na praia. Ao lado também estão
aqueles duendes da história que a mãe lhe costuma ler antes de dormir. E as
estrelas, os planetas, os mares. Vê também a irmã, que sempre quis ter, a andar
naquela bicicleta que pediu para o Natal. O baú não parece ter fim. De repente,
desaparece tudo e fica apenas uma chave. Gabriel recolhe-a e fecha o baú. Vê
uma janela na parede ao fundo da gruta. Roda a chave na pequena fechadura e
abre-a, lançando-se no desconhecido.
Acorda no chão do quarto, estremunhado. A mãe entra de
rompante. "Gabriel, caíste da cama outra vez!", diz-lhe enquanto faz
a cama. Gabriel olha pela janela. Chove. Na palma da sua mão está a chave, a
chave dos sonhos. A mãe aproxima-se dele e acaricia-lhe o cabelo.
-"Tenho uma
novidade para ti. Vais ter um irmão..."