quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O Tesouro de Gabriel (Parte III)


Gabriel demora algum tempo a habituar-se à escuridão. No centro da gruta, forma-se uma imagem de um baú. "Aqui está!", exclama. Não obtém resposta. Gabriel olha em seu redor e não vê ninguém. As pegadas à entrada da gruta são apenas as dele. O baú está agora mais nítido. "Afinal há mesmo um tesouro..." Aproxima-se e abre a tampa, com cuidado. Gabriel não quer acreditar! No interior do baú, bem longe, muito para lá do fundo, estão os piratas que conheceu na praia. Ao lado também estão aqueles duendes da história que a mãe lhe costuma ler antes de dormir. E as estrelas, os planetas, os mares. Vê também a irmã, que sempre quis ter, a andar naquela bicicleta que pediu para o Natal. O baú não parece ter fim. De repente, desaparece tudo e fica apenas uma chave. Gabriel recolhe-a e fecha o baú. Vê uma janela na parede ao fundo da gruta. Roda a chave na pequena fechadura e abre-a, lançando-se no desconhecido.
Acorda no chão do quarto, estremunhado. A mãe entra de rompante. "Gabriel, caíste da cama outra vez!", diz-lhe enquanto faz a cama. Gabriel olha pela janela. Chove. Na palma da sua mão está a chave, a chave dos sonhos. A mãe aproxima-se dele e acaricia-lhe o cabelo.
 -"Tenho uma novidade para ti. Vais ter um irmão..."


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Tesouro de Gabriel (Parte II)


Ao atravessar a praia, Gabriel apercebe-se que há muito mais gente à sua volta. Alguns piratas pescam, outros afiam as espadas, ainda outros reparam os pequenos escaleres de madeira. Ninguém parece reparar nele, excepto o grupo na fogueira.
 -"Dormiste como uma baleia!" - diz-lhe um dos piratas, passando-lhe um peixe para a mão. - "Então, onde está o tesouro?"
 -"O tesouro?"
 -"Sim, trouxeste-nos aqui para encontrar um tesouro."
Gabriel não quer acreditar. Tesouro? Ele? Quem são estas pessoas que o conhecem?
 -"Está do outro lado da ilha" - diz, sem saber porque o disse.
 -"Então de que estamos à espera?"
Os outros piratas levantam-se e começam a subir a falésia, seguidos pelo atónito Gabriel. Lá em cima percebem que a ilha é minúscula e que o outro lado é uma praia igual à de onde vieram. Gabriel desce o outro lado da falésia, seguindo decidido um propósito que desconhece. Apenas ele parece surpreendido pelo formato estranho da ilha.
 -"Chegámos!" - informa, parando em frente a uma gruta em tudo semelhante àquela onde acordou, minutos antes.
Sem hesitar, mergulham na escuridão.

(continua)


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Tesouro de Gabriel (Parte I)



Gabriel acorda envolto num abraço de luz. O calor ténue do Sol acabado de nascer contrasta com o frio que se faz sentir à sua volta. Parece uma caverna. Areia no chão. Praia. Os raios de Sol que o despertaram entram por uma abertura nas rochas. "Onde estou e como vim aqui parar? Não me lembro de nada", pensa. Recorda-se que no dia anterior ficou acordado mais tempo, já depois de a mãe o ir deitar. Levanta-se e esfrega os olhos. A única saída é aquela ocupada pelo Sol e Gabriel atravessa-a sem receio, cego pela luz. Cá fora, um mundo inesperado apresenta-se perante os seus olhos. Ao largo, um galeão antigo está ancorado. No alto do mastro, a bandeira negra ondula inconfundível. "Não pode ser, estou a sonhar, os piratas não existem!"
 -"Gabriel, já acordaste? Estamos à tua espera!"
Surpreendido, Gabriel olha para a praia, onde um grupo de três corsários se reúne à volta de uma fogueira. "Mas, quem são? Como sabem o meu nome? Onde estou?"
 -"Despacha-te, a comida vai ficar fria!"
Instintivamente, Gabriel aproxima-se.

(continua)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Infinito



Sempre que viajo sinto-me livre. Soa um pouco a cliché, mas a verdade é que viajar e ser livre são dois conceitos que só ganham significado quando são adoptados por alguém. Viajar tanto pode ser adormecer num continente e acordar noutro, como sair de casa e desta vez virar à direita em vez de ir pela esquerda. Mais que uma deslocação, viajar implica um estado de espirito, uma predisposição para usar os sentidos, para absorver, para sentir. No fundo, para crescer. Para mim, viajar é procurar ser livre. Esta liberdade aparece de várias formas, mas há uma que me é especial, que eu aprendi a encontrar. É a forma do infinito. Onde quer que vá, sinto-me livre sempre que vejo o infinito. Já o vi nos céus límpidos das noites do deserto, na curvatura da Terra vista através de uma janela de avião e no horizonte, ao fundo da vastidão imensa do mar. É nesse instante, em que vislumbro o infinito, que sou livre, porque encontrei algo que será sempre maior que eu.