Abro os olhos. Num movimento que não controlo, as minhas
pálpebras expõem-me à claridade. O meu corpo a subir as persianas e a dar-me os
bons dias. Atordoado, fecho os olhos com força. Por entre mil e um pontos
luminosos recupero gradualmente a consciência. Já dono de mim, volto a abri-los
a medo. O clarão forte cega e magoa. A custo, distingo a forma dos meus braços,
num fundo imenso de luz. Na mão direita, uma pulseira de plástico amarelo exibe
um nome. Talvez o meu. Fecho novamente os olhos. Busco em mim o início de um
pensamento, de uma linha de raciocínio, mas não encontro. As gavetas da memória
também não guardam nada. Em mim, apenas o vazio. Abro os olhos determinado a
suportar a dor. A minha perna treme ligeiramente. Mexo um dedo. Aos poucos,
decidido, desperto, nu, para o mundo.
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