quinta-feira, 28 de junho de 2012

Despertar


                                                                

Abro os olhos. Num movimento que não controlo, as minhas pálpebras expõem-me à claridade. O meu corpo a subir as persianas e a dar-me os bons dias. Atordoado, fecho os olhos com força. Por entre mil e um pontos luminosos recupero gradualmente a consciência. Já dono de mim, volto a abri-los a medo. O clarão forte cega e magoa. A custo, distingo a forma dos meus braços, num fundo imenso de luz. Na mão direita, uma pulseira de plástico amarelo exibe um nome. Talvez o meu. Fecho novamente os olhos. Busco em mim o início de um pensamento, de uma linha de raciocínio, mas não encontro. As gavetas da memória também não guardam nada. Em mim, apenas o vazio. Abro os olhos determinado a suportar a dor. A minha perna treme ligeiramente. Mexo um dedo. Aos poucos, decidido, desperto, nu, para o mundo.